sábado, 4 de junho de 2016

Educação financeira e isolamento social

Uma das consequências de começar a ir atrás de se virar com as próprias pernas, depender menos do Estado e entender melhor de economia é o isolamento social e a revolta que sinto cada vez que ouço conversas fúteis, vejo comentários idiotas sobre dinheiro e principalmente observo o comportamento das pessoas com quem convivo com relação a independência financeira e planos de vida.

O Brasil vem de um passado onde a economia era uma merda completa, os governantes eram e são o que há de pior na face da Terra e a escola desde a época da ditadura é um antro de professores marxistas. Dito isso, não é nenhuma surpresa constatar que:

  • brasileiro não entende nada de economia
  • brasileiro não sabe lidar com dinheiro
  • brasileiro não faz a menor idéia de como funciona o dinheiro
  • brasileiro não faz idéia se o dinheiro possui lastro real
  • brasileiro não entende como funciona a dívida pública
  • brasileiro não entende o PIB
  • brasileiro não sabe explicar o papel do Estado
  • brasileiro não sabe os impostos que paga
  • brasileiro não faz questão nenhuma de saber nada disso que eu falei
  • brasileiro mesmo assim opina sobre tudo isso que eu falei

O que mais me deixa triste com relação a tudo isso é que esse tipo de perfil não é restrito ao brasileiro pobre ou sem instrução. Ao contrário, os que mais se metem a falar sobre economia sem saber são pessoas com faculdade, de famílias de classe média ou ricas, que nunca passaram necessidade e que não deixam de comprar o último Iphone, nem que seja em 24x.

A consequência de tudo isso, pelo menos pra mim, é que às vezes eu me sinto completamente sozinho e sem ter com quem conversar sobre o que penso. Veja bem, não sou nenhum intelectual nem profissional nem especialista em porra nenhuma sobre economia, mas procuro me informar bastante, ler livros sobre o assunto, entender a fundo questões sobre o papel do Estado, impostos, formação de patrimônio. São assuntos corriqueiros e pelo menos pra mim, essenciais para sobreviver ao Brasil de hoje. Entender com clareza qual é a herança deixada pelo PT, qual o estrago causado pelas distorções na economia da tal nova matriz econômica da Dilma, refletir sobre a necessidade real do salário mínimo, da pesadíssima CLT, do buraco negro que são os gastos públicos com saúde, educação e infraestrutura.

Essa visão foi reforçada com a leitura do livro As vantagens do pessimismo, que eu terminei recentemente. O livro mostra como é importante ter essa visão crítica sobre assuntos econômicos e políticos para não nos deixarmos cair na lábia de políticos utópicos e vendedores de ilusões. Uma dose correta de pessimismo pode tornar as pessoas mais racionais e escapar de armadilhas que a história já provou inúmeras vezes. O socialismo é basicamente uma ilusão gigante de que é possível atingir uma espécie de nirvana existencial coletivo, contanto que todos abram mão de seus desejos individuais e queiram se tornar formigas niilistas, todas unidas num objetivo comum de serem nada e desejarem o nada, de viverem pelos outros em troca de nada e nada mais.

Eu hoje consegui acumular um patrimônio que considero razoável, mas que perto de outras pessoas eu pareceria um multimilionário. Não fiz nada além do que considero minha obrigação como ser humano independente, racional e livre. Meu objetivo com isso não é de gastar tudo com inutilidades, luxos ou ostentações, mas sim de me desamarrar da obrigação de trabalhar com o que eu não gosto, de não precisar adular nenhum político, de compreender melhor o funcionamento do mundo em geral, de garantir uma aposentadoria digna e honesta, onde eu não dependa do que é extorquido dos que trabalham.

Como todo nerd, gosto muito de ler notícias sobre games, filmes e entretenimento em geral. Mas essa diversão se tornou um stress absurdo quando vejo os ~jornalistas~ da área opinando sobre falta de ministras mulheres no governo Temer, puxando saco de feministas histéricas que se ofendem por qualquer coisa e tentam assassinar reputações de pessoas, discutindo progressismo e representatividade em videogames. Puta que pariu. Eu quero jogar videogame porra. Não quero saber se as mulheres estão bem representadas no jogo X. Não quero discutir se o protagonista do filme Y deveria ser negro. Eu não ligaria se eu controlasse um travesti num jogo de tiro, contanto que exista uma boa razão para isso ao invés de ser algo puramente para agradar alguma porcaria de jornalista inútil que acha que sua opinião é valiosíssima. Essa área de jornalismo geek é um barato: todo mundo pensa igualzinho. É a mesmíssima opinião sobre feminismo, meritocracia, Donald Trump, Dilma, cotas estudantis... quem pensa diferente é enxotado da panelinha. Imagine agora como deve ser a redação de um jornal de verdade. Nada muito diferente disso. Chegamos ao ponto de estarmos nessa merda completa no Brasil e ocorrerem debates nesse meio geek sobre arranjar uma namorada pra Elza do Frozen. Talvez o grande problema do Brasil seja a falta de homossexuais em desenhos infantis?

Pseudo-jornalista gamer solicitando que a Blizzard suspendesse uma campanha promocional de um novo jogo com Danilo Gentili pois na opinião dela ele é uma espécie de demônio homofóbico racista misógeno


Não consigo mais frequentar sites ou ouvir podcasts sobre coisas nerds no Brasil. Não consigo mais ouvir pessoas conversando sobre financiamentos ou estratégias estúpidas pra adquirir patrimônio. Não aguento brigas familiares por causa de quinhentos reais. Me irrito quando ouço colegas de trabalho discutindo sobre como gastar o mais rápido possível qualquer dinheiro extra. Me estresso quando minha família e amigos enchem o meu saco e tentam opinar na minha vida sobre como eu deveria usar o meu dinheiro.

Já tentei disseminar algumas coisas que aprendi sobre dinheiro e investimentos. Fiz até slides e apresentei para algumas pessoas. Indiquei livros. Tentei abrir a cabeça sobre o funcionamento do dinheiro. Não consegui nada além de um ou outro começar a colocar uma merreca no Tesouro Direto para aposentadoria. E a maioria deles ainda defende que a Luciana Genro ou a Marina Silva seriam boas opções para 2018. Achei que com o tempo o perfil das pessoas acabaria mudando, mas não é o que está acontecendo.

Quanto mais estudamos e entendemos sobre economia e política mais nos distanciamos do resto das pessoas com que convivemos e toleramos menos as idiotices que são disseminadas como verdades irretocáveis. Toda uma geração de pessoas mais interessadas em adorar o Estado e continuar dependendo dele do que encarar a realidade e andar com as próprias pernas. O futuro dirá quem tem razão. 

22 comentários:

  1. Nerd, dois livros que li sobre o assunto desse politicamente correto chato que gostei foram: guia politicamente incorreto da filosofia do Pondé e o MENTIRAM (E MUITO) PARA MIM do Flavio Quintela. Confesso que não gosto muito de ler sobre economia, prefiro temas culturais, políticos e sociais ( o que acaba de certa forma influenciando a economia ). Outro que gosto de ler é Carlos Ramalhete (http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/colunistas/carlos-ramalhete/). Ele tem um pensamento completamente diferente da manada. O Bruno Garschagen também é bom (http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/colunistas/bruno-garschagen/).

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    1. Desses eu li o do Quintela e gostei bastante, o do Pondé e o do Garschagen (Pare de acreditar no Estado) eu tenho aqui e ainda não li. Preciso começar a ler mais rsrs

      Abraço!

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  2. Sensacional Nerd Investidor! Eu sei exatamente como você se sente e tenho a mesma sensação que já deu a cota de tolerância. Sou Analista de Sistemas e não dispenso um bom game, séries e filme. É raríssimo encontrar alguém com quem se possa conversar o básico de economia e finanças. Nenhum dos meus amigos se interessa pelo assunto e nenhum dos meus colegas de trabalho também. Quando navegamos pela internet e olhamos as manchetes das notícias, é um monte de patifaria como essas que você citou. Querem empurrar goela abaixo essa coisa de cota até para o entretenimento nerd/geek! Além da Elza, também querem um namorado pro Capitão América, olha que lindo! Falam que faltam mulheres, negros, travestis aqui e ali como se tudo fosse um elenco de Power Rangers.

    Parabéns pelo post lúcido e saiba que não é o único que fica inconformado com certas atitudes do "povão".

    PS. É um blog de finanças, mas a "parte nerd" já fez algum post sobre os games e series que você curte?

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    1. Cara... essa parte dos geeks tá chata demais. Eu ainda consigo aguentar o Jovem Nerd pois ele ainda não se manifesta claramente sobre política nos vídeos e podcasts, apesar que é notável a mentalidade esquerdinha dele, mas até então não atrapalha a qualidade do trabalho. Agora o resto... puta que pariu. O que eu fico mais puto ainda é que quando você compara o trabalho do ~jornalismo geek~ no Brasil com o de outros países, vc vê que além do povo daqui ser mala pra caralho e falar mais sobre cota racial do que de games e etc, não manjam nada do que estão falando.

      Alguns posts mais antigos eu fazia review de games e livros... preciso retomar essa parte do site hehehe.
      Abraço!

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    2. Noooossssssaaaa, bicho! tirou as palavras da minha boca! De um tempo para cá não consigo ouvir um vídeo do Omelete que não tenha uma temática politicamente correta. Sério! Dá desgosto! E eu gosto muito do mundo nerd!

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    3. O Omelete virou um portal do politicamente correto... eles analisam até os filmes agora de acordo com a representatividade feminina, uso de negros na dose correta, pqp

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    4. Hoje só da pra acompanhar o podcast do Godmode, eles falam do que interessa, games.

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  3. Muito bom post Nerd. Essa questão do "abrir a mente" talvez seja a mais difícil. Não fomos educados assim, não pensamos assim. Alguns empregos também nos levam na direção contrárias.
    Veja os funcionários públicos por exemplo, uma massa enorme de superendividados, pois existe a facilidade do crédito, a sedução do consumo, e a sensação que o salário será para sempre, e sempre aumentando.
    Mas não desista das pessoas. Eu estou saindo de uma situação de superendividamento (~-401.000,00 em 2013) e ainda tentando zerar dívidas. Gostaria que alguém no passado tivesse perdido esse tempo comigo, quem sabe pelo menos algumas extravagâncias muito caras eu não teria feito!

    Meu blog recém criado: http://autopsiafinanceira.blogspot.com.br/

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    1. A galera ESCOLHE ser medíocre e ficar na mesmice, e depois bota a culpa no capitalismo e o kct pra justificar a vida merda que adotaram. É foda.
      Rapaz, 400k de endividamento, ô loco! Mas tenho certeza que você sai dessa logo. Vou acompanhar seu blog!

      Abraço!

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  4. Fala Nerd,
    Parabéns pelo texto.
    Pode add meu blog na list? ja adicionei o seu la.
    abs

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  5. Nerd,

    Perfeito!

    Muitas vezes eu sinto-me assim também.

    O Bostil é um lixo justamente por causa dos bostileiros, que é um povo absolutamente alienado, burro, ignorante, e por aí vai...

    A solução é mesmo o aeroporto!

    Abraços.

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    1. Porra nem me fale... acabei de sobreviver a um tiroteio que teve do meu lado enquanto eu andava de carro... tá cada dia mais foda!

      Abraço!

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  6. Isolamento social é pouco! As vezes me sinto um ET falando sobre renda passiva... algo de outro mundo..!

    Abraços!

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  7. Como sempre muito lúcido, o Brasil enfrenta uma crise de identidade das pessoas, onde todos tentam se colocar de um lado do debate, na maioria das vezes estúpido, e não se preocupam em racionalizar de fato os problemas, tudo vira histeria. Parabéns pelo Blog e continue firme!

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  8. Hahahaha na faculdade os caras quase que me apelidaram de SELIC...

    Quando eu falava de taxa selic a maioria não sabia o que era direito.

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  9. Muito bem Nerd! Todo mês visito aqui para ver as novidades, o engraçado ao ler esse post foi de lembrar o motivo pelo qual eu o acompanho, pesquisava sobre o livro A Revolta de Atlas, depois que li seu post sobre ele decidi comprar e acabei adicionando seu link nos favoritos.
    Infelizmente tenho que concordar com você. Toda essa ignorância passada quase que geneticamente, rsrs, de geração para geração afeta até nas fontes de noticias e diversão, somos obrigados a procurá-las fora devida a falta de "qualidade" e por ai vamos nos afastando, mesmo que aqui, da sociedade local. Como o colega citou acima: A solução mesmo é o aeroporto.
    Uma pena que num pais tão rico em recursos naturais e tão privilegiado climaticamente ser habitado por essa corja.

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    1. Bom saber que eu consegui influenciar alguém a ler esse livro. É muito bom.
      É muito triste ver amigos alienados... hoje mesmo tinha um ou outro em grupos de whatsapp zuando quem é anti-PT por causa da prisão do Japonês da Federal... usando imagem do Haddad Tranquilão. Página de humor favorável ao governo paga com dinheiro público. PQP!

      Abraço!

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  10. Cheguei a conclusão que o mundo inteiro está doente, poucos se salvam.

    Essa patrulha do "politicamente correto" é de matar.

    Qual a minha postura de uns tempos para cá ?

    Resposta: "Liguei o foda-se"

    Visto que a maioria dos brasileiros são ignorantes eu fico na minha, vivo minha vida, ganho minha grana e vou acumulando patrimônio, como algumas GPs.

    Me tornei especialista em ignorar as pessoas e não gosto de dar muito assunto.

    O único jeito de salvar a América é torcer para o Trump ganhar nos E.U.A em Novembro e Bolsonaro no Brasil em 2018.

    A Europa já é um caso perdido. Ela está indo para o saco ...

    Ps: Puta merda, Marina Silva e Luciana Genro são de matar. Tem gente que não aprende mesmo.

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  11. Parabéns pela lucidez a análise objetiva do contexto atual da sociedade brasileira como um todo.
    A questão do planejamento futuro, para sermos independentes de políticas públicas, é um assunto que as pessoas não conseguem entender.
    Endeusam o estado achando que o mesmo é a solução dos seus problemas, quando na verdade, elas mesmas são responsáveis pelas vidas que levam. Para cada escolha de vida um resultado que será esperado.
    Mudar essa mentalidade em um país como o nosso acho que não será possível no curto prazo.
    Como podemos esperar um planejamento financeiro de longo prazo se as pessoas com seu ganhos não conseguem chegar ao final do mês?
    A partir do momento em que formos consciente que nossas próprias escolhas piorarão ou mitigarão nossas vidas, seremos os verdadeiros condutores de nossas vidas.

    Abraço e novamente parabéns

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  12. Muito bom o post" Frase célebre:

    "Quanto mais estudamos e entendemos sobre economia e política mais nos distanciamos do resto das pessoas com que convivemos e toleramos menos as idiotices que são disseminadas como verdades irretocáveis. Toda uma geração de pessoas mais interessadas em adorar o Estado e continuar dependendo dele do que encarar a realidade e andar com as próprias pernas. O futuro dirá quem tem razão. "

    Penso o mesmo que você, grande abraço!
    http://capitalismus.blogspot.com.br/

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  13. "todo mundo pensa igualzinho. É a mesmíssima opinião sobre feminismo, meritocracia, Donald Trump, Dilma, cotas estudantis... quem pensa diferente é enxotado da panelinha."

    Quem dera que fosse somente opiniões sobre política. Pergunte sobre arte, cultura e as opiniões vão ser quase a mesma coisa.

    O pior é que essa gente nem pensa por qual motivo as opiniões deles são tão parecidas. Eles nem imaginam que estão sendo manipulados e ainda se acham neutros e imparciais.

    Eu (pelo menos) sei muito bem de QUEM vem minhas teorias sobre riqueza e Mercado de Capitais. Eu sei que nunca serei imparcial ou neutro e nem tento mais ser.

    É muito triste todos terem visto o mesmo filme e ninguém ali ter uma opinião diferente. Você não tem vontade de falar com ninguém.

    Quem me ver não imagina que eu curto cultura japonesa. Nem ir ao SANA eu vou mais.

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