sexta-feira, 14 de junho de 2013

O inimigo agora é... quem?

Está acontecendo! Finalmente o povo brasileiro acordou e lembrou da poderosa arma que temos contra os problemas do país: protestos!

Mas afinal, quem é essa pessoa que está protestando? E contra o quê, ou quem, exatamente?



Estamos presenciando essa semana algo que foi esquecido há muito tempo: o poder do povo de se organizar contra uma questão social e tomar as ruas gritando por mudanças. O protesto começou por um motivo pequeno, até bobo, comparado a todos os problemas que temos desde o início do governo Dilma: 20 centavos a mais na tarifa do transporte público, que estava com o preço congelado desde 2011. Engraçado como a percepção que temos sobre a realidade a nossa volta muitas vezes é inocente. Estamos convivendo com um PIB ridículo e inflação alta durante os últimos dois anos. Preços de alimentos disparam, os aumentos de salário chegam e o dinheiro que sobra no final do mês continua igual. Mas é um aumento invisível, pois a corrosão do valor do dinheiro é lenta e indiretamente notada pelo cidadão comum que não entende muito bem sobre notícias da economia.
Mas quando a passagem aumenta o impacto é direto, estampado no guichê de compra dos bilhetes, na frente de cada ônibus, e aí a mudança atinge a grande massa.

O Movimento Passe Livre, que iniciou a onda de protestos em São Paulo, prega o fim da tarifa do transporte público. Porém não dá uma solução de como isso vai funcionar. Esse é o problema do protesto sem objetivo claro: se o protestante não apresenta uma solução para o problema, o protesto perde o sentido e se torna apenas uma revolta popular banal. É o que estava acontecendo até quarta-feira: boa parte das pessoas estava contra os manifestantes, pois a interpretação inicial era de que eram um bando de playboys vagabundos que não tinham nada pra fazer e saíram quebrando tudo sem motivo.


Mas aí entra a imprevisibilidade: o despreparo completo da polícia em lidar com a situação inverteu todo o sentido e mudou o alvo do protesto. A truculência da polícia, os absurdos capturados por inúmeras câmeras da imprensa e celulares deram validade completa ao movimento, que ganhou validade e um sentido muito maior a partir do momento em que as cenas escancaram a realidade de forma direta, sem rodeios, como ocorre com a silenciosa inflação: o poder público não respeita o povo, não tem capacidade de dialogar, não tem preparo nenhum para lidar com problemas. O prefeito ficou na corda bamba e se tornou um comentarista passivo sobre o problema. O governador não se pronuncia. A imprensa, antes defendendo a polícia com artigos bastante ofensivos e banalizadores, agora sentiu na pele o problema e jogou a merda no ventilador. O povo não tem aliados, não tem ninguém pra defender seus interesses, ninguém capaz de ouvir e entender o que está sendo pedido.



Chegamos ao ponto de protesto, mas protesto contra o quê? Não conseguimos apresentar uma solução clara sobre os problemas. Não temos partido de oposição que forneça opções (não considero PSOL e PSTU como partidos influentes e muito menos escolhas positivas para governar o país). Isso não tira a validade do protesto, mas é necessária a união e o direcionamento de todos para que o movimento continue e ganhe a força necessária para mudar.

E finalmente chegamos agora ao primeiro evento esportivo internacional que vamos sediar nós próximos anos, com a sensacional combinação: 

  • ondas de protestos
  • violência contra o povo por parte do poder público
  • violência urbana em alta
  • gastos públicos exorbitantes
  • nenhuma obra de infra-estrutura decorrente dos superfaturadíssimos eventos
  • inflação alta
  • crescimento baixo
  • falta de confiança total na economia
  • dólar disparado
  • Bovespa como uma das piores bolsas do mundo (81º lugar)
  • possível rebaixamento de rating do país
Tá bom ou quer mais? Ah, temos a opinião da presidente sobre quem está pessimista:


É, Dilma. Vai ver que o povo inteiro está errado, e você não.

Leia também: A gota que faltava

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