É evidente que a esquerda é bastante sedutora. Afinal, ela oferece ao jovem inocente tudo aquilo que ele deseja no alto de seus hormônios descontrolados: vilões terríveis (o capitalismo, a elite, a burguesia, a ganância, a revista Veja), os fracos, indefesos e oprimidos (os pobres, os favelados, os gays, os negros, as mulheres, os trabalhadores), os heróis inspiradores (Che Guevara, Stálin, Hugo Chávez, Obama) e um ideal romântico utópico (a igualdade absoluta, o fim da pobreza, a revanche contra os poderosos).
Através desse discurso lindo eles atraem a juventude já distante da vida intelectual e passam a proliferar seus ideais. O jovem não vai querer saber da realidade, pois ela geralmente é bastante chata: se você quer ter dinheiro, precisa trabalhar muito. Se você é ofendido, precisa aprender a lidar com isso, se tornar forte e revidar. Se um bandido te assalta, come sua irmã e mata sua mãe, ele não é uma vítima de uma sociedade opressora, e sim um indivíduo desgraçado que merece ser brutalmente punido, isolado da sociedade ou até mesmo morrer.
Ler e estudar algum assunto à fundo também dá muito trabalho. São muitos livros, muitas opiniões, muitas informações. O mais fácil mesmo é receber uma visão já digerida por algum blog. De preferência, não um blog de algum cara engomadinho, de terno, defensor dessa realidade opressora capitalista. Mais fácil buscar alguém parecido. Que se vista diferente, que tenha as mesmas idéias, que enxergue todo o mal que esses americanos causam no mundo. Ok, falam mal deles do alto de seus iPhones, mas não tem problema, pois eles são instrumentos para propagação a revolução.
Apesar de morarem em apartamentos bons em bairros nobres, eles sabem exatamente o que o favelado procura: a igualdade total, o fim da burguesia, o fim da classe média nojenta. Eles são da classe média também, mas como eles possuem esse pensamento superior, então eles se elevam a um novo nível social, onde eles são inatingíveis, pois eles enxergam o mundo da forma correta, revolucionária, superior a todos os outros humanos.
O ativismo principal é compartilhar textos longos na internet defendendo o estado democrático de direito. Aí entram os popstars super-heróicos inspiradores, como o Sakamoto, o PC Siqueira, as páginas dos anarquistas, Black Blocks, blogueiros chapa-branca. Claro, todos os textos devem ser direcionados para assuntos contraditórios que chamam atenção. Não se dá atenção para o jornalista morto por uma bomba na cara de um dos companheiros, isso foi um acidente de percurso, uma fatalidade em nome de conquistar uma revolução, um ideal. Mas quando a polícia bate em alguém ou a classe média culpada por ostentar luxos resolve atacar um bandido negro, ela deve ser punida e massacrada nas redes sociais.
O problema é quando essa minoria não age de acordo com os interesses da revolução. É revoltante quando a maioria das pessoas das favelas ainda procuram um emprego, um trabalho, vão pra igreja e tentam levar uma vida honesta, ao invés de se erguerem contra a burguesia opressora. Que droga. Mas tudo bem, eles estão ai para serem doutrinados, afinal, os jovens super-heróis sabem exatamente o que é melhor para o povo todo, de forma generalizada, pois na revolução não existe o conceito do indivíduo, somente do coletivo. Devemos agir como formigas pelo bem da colônia. Pensamentos individuais são reacionários, tiranos, nefastos.
E os super-heróis lutam por essa mudança sabendo que serão recompensados quando a sociedade atingir o nirvana utópico da igualdade total, numa sociedade sem essa tal de burguesia que é o mal de tudo. Uma sociedade onde o Estado possui o controle absoluto sobre nossas vidas, sobre o que iremos fazer, o que iremos consumir, onde iremos morar, como iremos tocar nossas vidas. O benevolente Estado, onipotente, um cérebro universal acima do bem e do mal que irá acolher a todos de forma paternal, tirando do indivíduo qualquer tipo de responsabilidade sobre as próprias ações. O sonho de todos os super-heróis.