Ser um brasileiro que tenta fugir da mediocridade, da mesmice e do crônico conformismo social e cultural que vivemos não é tarefa fácil pra ninguém. O turbilhão de problemas econômicos e políticos que presenciamos atualmente entra em conflito direto com a apatia e a sensação de impotência de viver em uma sociedade que está muito, mas muito claramente errada em inúmeros aspectos e nada é feito para mudar isso.
Refletindo sobre a falta de atitude do brasileiro com relação as finanças, percebemos a triste realidade da nossa cultura: o culto a pobreza. É um espécie de religião sutil que é imposta dia-a-dia pela mídia de massa, pela propaganda política, pelo pão e circo do futebol, samba e bolsa-família.
A baixa escolaridade e o histórico de problemas políticos que tomam a nossa história desde seu início criou uma espécie de conformismo generalizado de nos colocarmos em uma situação de povo pobre em país desorganizado com problemas insolúveis e uma certa inveja por países desenvolvidos que é encoberta por uma falsa percepção de que somos felizes, livres e perseverantes. Mas a única coisa que isso traz é mais pobreza, imbecilidade, malandragem e estupidez.
Brasileiro não quer saber de conversar sobre finanças, investimentos, dinheiro porque isso é mal visto por aqui. Nos sentimos culpados de pensar em multiplicar capital, pois o que institucionalizado é viver endividado, consumindo os produtos mais caros do mundo, sempre no limite do cheque especial, mas com o cuidado de sobrar um pouco pra cerveja e talvez até pro ingresso da final do campeonato.
Vivemos em uma espécie de roteiro implícito onde o script consiste em comprar um carro em 36x sem entrada ao começar a trabalhar (pra "pegar mulher"), ter o máximo possível de cartões de crédito pra comprar coisas que não precisamos para ostentar para quem não gostamos, gastar uma fortuna no casamento pra fazer inveja aos amigos, entrar em uma dívida pra vida toda com o imóvel top em São Paulo cujo condomínio é quase o preço de um aluguel, e claro ter filhos sem planejamento pois as coisas tem que acontecer ao acaso.
Levar a mulher em restaurante caro, decorar a escalação do seu time do coração e adotá-lo como religião (esquecendo que ali existe uma empresa privada cujo objetivo é o lucro) e protestar contra os problemas compartilhando fotos no Facebook sobre a bolsa-crack (que 90% das pessoas entenderam ser um dinheiro que o governo deposita na conta da família do drogado), assinar petições online inúteis, se preocupar com debates inúteis sobre gays, evangélicos e minorias, amplamente divulgados e incentivados por mídias que são patrocinadas por quem está interessado em desviar a atenção dos problemas principais do país.
A mensagem é clara toda vez que vemos uma propaganda política. Lá mostra o pobre sorrindo, o coitado feliz, a dona de casa alegre, ao som de um sambinha maroto e em cores vivas, numa realidade utópica que mostra a miséria e a baixa renda como vitórias sociais que devem ser comemoradas.
Querer ser rico é uma espécie de pecado por aqui. É como dizer que você quer ser bandido. A opinião unânime é que só tem dinheiro quem é malandro, safado, corrupto, desalmado. O brasileiro de "bem" deve se recolher a sua insignificância básica de ser povão, de sambar, de dar risada dos problemas, de aceitar seus impostos, sua saúde pública ridícula, de viver uma batalha diária durante anos com a esperança de ser amparado pelo governo na sua aposentadoria, de manter fé em Deus e jogar na mega-sena pra ínfima chance de mudar de vida sem esforço.
O post foi meio desabafo, mas tem hora que é desanimador perceber isso todo dia.
Seguimos em frente na luta contra a maré.
Abraços!
"A mensagem é clara toda vez que vemos uma propaganda política. Lá mostra o pobre sorrindo, o coitado feliz, a dona de casa alegre, ao som de um sambinha maroto e em cores vivas, numa realidade utópica que mostra a miséria e a baixa renda como vitórias sociais que devem ser comemoradas."
ResponderExcluirPerfeito, Nerd!
As vezes me sinto um extra terrestre infiltrado nesse mundo todo atravessado.
Complicado isso...
Triste realidade brasileira....
ResponderExcluirEstou terminando um post sobre esse assunto. No Brasil, parece que ser rico é sinônimo de ser corrupto, como se pobreza fosse algo bom e riqueza algo ruim, quando deveria ser o contrário, como acontece nos países desenvolvidos.
Abraços,