quinta-feira, 27 de junho de 2013

A história do Nerd

Faz tempo que não posto nada no blog, e principalmente faz tempo que não posto nada além de xingar o governo. Vou contar um pouco da minha humilde história hoje.



Minha vida seguiu um padrão típico de um menino nerd: quando eu era mais novo, eu era molecão de tudo, do tipo bobão mesmo, que idealizava a garota perfeita que um dia iria surgir e me tirar da vida de merda que eu tinha. Magrelo, pálido e com cara de idiota. Sempre fui o deslocado da escola, o menino que era invisível pras garotas e o alvo de todo tipo de brincadeira idiota e de humilhação dos malandros da sala. Até algumas garotas já chegaram a me zoar na frente de todo mundo. Tem muito professor que também faz questão de constranger o aluno tímido e alvo de piadas da galera. O ensino fundamental foi horrível pra mim. Estudava com bolsa em uma escola particular cheia de meninas mimadas e moleques classe média metidos a maloqueiros. Da 5 a 8 série foi um tormento de ser sempre rejeitado, humilhado e sozinho. Conforme cresci não mantive nenhuma amizade dessa época.

O ensino médio foi um pouco menos pior. Fiz uma escola técnica estadual e percebi a diferença de como as pessoas são muito mais inteligentes, menos preconceituosas e mais sensatas nesse tipo de colégio. Porém na questão "pegação" continuava uma negação total. Felizmente tinham muitos nerds por lá também e eu fiz muitas amizades boas que continuam até hoje, mas nunca foi o tipo de turma que fazia churrasco de final de semana com direito a cerveja e mulheres safadas.

Já emendei a faculdade e lá as coisas foram bem abaixo da minha expectativa. Caí numa turma bem chata, onde a maior parte das pessoas eram arrogantes, workaholics e competitivas (isso num curso de TI). Mas foi nesse período que eu comecei a dar uma "virada" na vida, depois que um belo dia chegando em casa uma vizinha estava do lado da mãe e basicamente começou a rir descontroladamente da minha cara sem nem disfarçar, dizendo que "eu era muito feio, tadinho". Foi uma humilhação tão grande que causou uma ruptura total no meu estado de vida. Eu olhei no espelho e vi que ela tinha razão. Eu me vitimava de um monte de coisa mas a realidade é que eu era um fracassado coitado mesmo.

Naquele mesmo mês eu aposentei os óculos e coloquei lentes de contato, o que já melhorou demais a minha aparência de mangina fracassado pra um "cara magrelo normal". Daí, o próximo passo foi finalmente começar uma academia. Em questão de 4 meses eu já tinha melhorado muito na aparência, passei a me cuidar melhor e me alimentar decentemente. Finalmente as mulheres começaram a reparar que eu existo. Fiquei com uma garota numa viagem pro interior de forma muito fácil e alguns meses depois comecei a namorar a irmã de uma colega do ensino médio. Nesse mesmo período arranjei meu primeiro estágio e iniciei minha carreira.

Minha família sempre foi muito pobre e cheia de dívidas. Toda minha juventude foi marcada por ver os outros com roupas de marca, tênis legais, videogames novos, instrumentos musicais, enquanto minha diversão em casa era um PC velho com emuladores, onde passei boa parte do meu tempo. Via minha mãe sofrendo para pagar as dívidas no cartão, os empréstimos, tentando tirar o nome sujo do SPC e SERASA. Decidi desde muito cedo que aquilo era o que eu menos queria pra mim. Não havia estudado nada sobre finanças, não entendia nada de mercado, mas percebi que para que eu não caísse na armadilha das dívidas, bastaria eu sempre poupar pelo menos metade do que eu ganhava. Como eu sempre fui uma pessoa acostumada a não ter dinheiro, meus ridículos salários de estágio eram uma fortuna, que eu sempre guardava o máximo possível na poupança. 

Namorei durante alguns anos, fui feliz nos primeiros meses, mas muito mais por "estar namorando" do que pelo namoro em si. O status de namorando pra um cara que viveu sempre na merda, sozinho e inferiorizado é muito estimulante. As pessoas param de te ver como um fracassado. As outras garotas começam a conversar mais com você. É muito legal mesmo. Porém foi como eu disse, eu gostava mais do status mas não do namoro em si, não tínhamos muita coisa em comum, ela queria casar cedo e eu como comecei a namorar tarde não tinha a menor intenção de já me bloquear de poder curtir mais a vida livre e com dinheiro. A menina queria namorar no máximo 3 anos e já casar, sem planejar nada. Vá a merda né! Comecei aí a parar de ser idiota com relação a mulheres e enxergar o quão interesseiras e cruéis elas podem ser. Oferecem uma parcela de afeto e vão moldando o cara para que faça o que elas querem.



Depois que terminei passei um tempo indo mas em baladas e festas com um pessoal do trabalho (que era incrivelmente muito mais divertido do que a faculdade em si). Foi uma das melhores épocas da minha vida. Todo final de semana tinha algum lugar pra ir. Eu conseguia aportar bastante mas também sobrava um bom dinheiro pra gastar com lazer.

Hoje estou namorando de novo, em um relacionamento com suas idas e vindas há alguns anos. Apesar do tempo e da idade, não tenho a pretensão de me casar tão cedo. No começo do namoro conversávamos bastante sobre finanças, aportes, investimentos e etc., mas depois de um tempo ela relaxou e agora gasta quase todo o salário com bobagens e supérfluos. Esse tipo de atitude me deixa bastante inseguro, não quero casar com mulher folgada onde eu tenha que juntar o meu dinheiro pro futuro enquanto ela gasta tudo no presente. Fiquem de olho amigos aportadores, falar de poupar e investir é muito fácil, mas elas sofrem muito mais pressão da sociedade pra comprar coisas idiotas, celulares caros, roupas de marca e etc.

A infância ruim deixou suas sequelas. Falar em público, ser observado por muitas pessoas ao mesmo tempo, conhecer pessoas novas e ambientes novos, tudo isso me traz uma insegurança do cacete. São coisas que ficam e preciso sempre lutar para amenizar esses problemas. Acho que boa parte dos problemas que carregamos são consequências de assuntos não-resolvidos na infância.

Mas por outro lado: a mesma garota que me zuou na rua aquela vez hoje é mãe solteira, acabada e tenta achar um otário pra sustentá-la. Boa parte dos babacas que me humilhavam na escola hoje estão em empregos ridículos, alguns já casaram e sustentam suas esposas obesas. Hoje estou com um currículo legal, ganhando um salário bom e numa empresa onde tenho autonomia e voz ativa. Os idiotas vão trabalhar 14 horas por dia até os 65 anos, enquanto eu sigo meu plano de ter independência financeira até os 35. Ainda tenho muito o que aprender, viver e melhorar, mas fica o conselho: se você hoje se sente um fracassado e rejeitado, entenda sua parcela de culpa em tudo isso, levante e vá melhorar. Ninguém vai fazer isso por você. Pare de idealizar seu futuro e construa o futuro. O capitalismo é o reflexo do mundo: cruel e só os fortes sobrevivem.



Abraços!

9 comentários:

  1. Adorei o texto, cara

    Sua história é parecida com a minha, temos a mesma idade, mas ainda estou atrasado na minha "evolução pessoal", sou um fracasso profissionalmente

    Acabei me revestindo na capa do "coitadismo", tenho que entender de uma vez por todas que por mais injusta que a vida tenha sido comigo, se eu não lutar não sairei do lugar

    Fico feliz de saber que um ex-nerd também pode se dar bem na vida no lado pessoal

    Sucesso!!!

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    1. A vida é cruel demais mesmo. As vezes eu queria ter a oportunidade de poder voltar no tempo e não ter engolido tanto sapo. Essas situações negativas logo no começo da vida afetam demais o nosso futuro e nossa auto-estima. Mas não podemos deixar o "coitadismo" dominar, ele faz com que fiquemos parados no lugar enquanto o tempo passa e as oportunidades também.

      Como não dá pra voltar atrás resta a perspectiva de desfrutar no futuro de uma vida plena e independente.

      Obrigado pela visita! Abraço e sucesso!

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  2. Uma história mais ou menos comum.
    Como um outro nerd e investidor, considerando o que vc contou, posso dizer que a minha história foi mais triste que a sua, e muito mais dificil no aspecto profissional (sou formado num curso de bosta de exatas, bosta no sentido de mercado, pois aprendi MUITA coisa, mas que o mercado de trabalho acha inutil... Fazer matematica, fisica ou quimica aqui eh pedir pra se complicar). Nao consegui emprego na iniciativa privada, ate felizmente ser convocado num bom concurso.

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    1. Infelizmente uma história comum mesmo =\, é bem triste que tantas pessoas passem por isso. Legal que você conseguiu uma vaga pública, já é uma garantia de emprego estável e sem a dor de cabeça das empresas privadas.
      Na parte da carreira tive a sorte de gostar desde cedo da área de TI (já que passava a maior parte do dia no PC mesmo rs).

      Abraço!

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  3. Fala nerd, mto legal seu texto.

    Realmente sua história tem mta semelhança à de milhares de pobretões de vida ruins feios pelo país e isso que é legal.

    É engraçado como pobretões feios começam a vida na merda mas ainda sim conseguem garantir um emprego razóavel e construir algo. Outra semelhança é como conseguem namoradas em algum ponto da vida porém elas já rodaram mais que nós e isso é humilhante.

    Alfas e fodões de escola tem uma desvantagem: Elas são gastões e casam relativamente cedo e suas esposas ficam gordas feias rapidamente. Essa é uma certa vantagem do pobretão esperto.

    Agora essa sua namorada tem que tomar cuidado. Gastadeira é uma merda. Elas vão querer que o cara sustenta a casa a mais que ela e qualquer desemprego ou problemas financeiras elas saem fora.

    Elas são terríveis em finanças,

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    1. Pois é, tô de olho nisso, mulher é foda, tem fase que é só dor de cabeça e elas vivem botando culpa em hormônio e TPM.

      Obrigado pela visita! Abraços!

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  4. Ótimo texto, parabéns pela superação.

    Quanto à mulher, na hora que interessa, ela vai falar até que gosta de swing e chuva dourada se for isso que precisar para ter acesso à sua carteira. O que sai da boca delas não vale de nada, a vida me ensinou isso. Observe as ações delas sempre.

    Outra coisa é: CUIDADO COM A UNIÃO ESTÁVEL. Sua namorada gasta, gasta e gasta e você guardando tudo e no fim do namoro ela leva metade do que você guardou... deve dar vontade de pular pela janela.

    Abraços.

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    1. Esse negócio de união estável dá um medo do kct. Imagina vc namora anos, fica de saco cheio e a mulher te processa querendo uma parte do seu dinheiro alegando união estável? PQP
      Mas eu tô tranquilo, é namoro de final de semana apenas, tomo cuidado pra não dar merda.

      Abraço!

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  5. Excelente o seu texto. Minha história tem alguns pontos semelhantes embora eu não tenha sido tão humilhado quanto você no quesito aparência. Já em outros aspectos eu fui bem pior.
    Hoje estou no mundo de TI também ralando pra valer.
    Ainda sou um estagiário de merda mas já estou fazendo a lição de casa
    e chego a aportar de 70 a 80% do que eu ganho.
    É isso aí. Estudar e trabalhar até mostrar pro mundo que os pobretões batalhadores é que riem mais no final.

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