sábado, 26 de outubro de 2013

A ilusão da meia-entrada

Final de semana. Nada pra fazer, hora de pegar um cineminha. Você arranja alguma mulher pra ir com você ou leva a esposa/namorada. Resolve comprar antecipadamente pela internet. Preço da meia: R$ 15, inteira R$ 30. 30 reais por cabeça pra ficar 2 horas em uma sala de cinema, tirando os gastos com estacionamento com alimentação, o passeio não vai sair por menos de R$ 100.

Que pena não ser mais um estudante para poder pagar os R$ 15. E quando você resolve ir num show e vê que a meia entrada custa R$ 160 e a inteira R$ 320? Caramba, preciso urgente arrumar uma carteirinha falsa pra economizar desse jeito.

A verdade é que a lei da meia entrada é uma das distorções populistas mais bizarras da nossa legislação. O governo baixa um decreto dizendo que certas categorias de consumidores devem pagar somente metade do valor para espetáculos, exposições, cinema e outros eventos culturais. Tudo isso sem nenhuma compensação para o empresário que está lá tentando levar o negócio dele adiante.



No começo, a meia-entrada só era válida para estudantes com a carteirinha emitida pela UNE (União Nacional dos Estudantes, que criou um monopólio muito lucrativo com essa emissão de carteirinhas). Mas em 2001 o governo resolveu quebrar o monopólio e aí virou festa, qualquer associação, colégio ou padaria (brincadeira) poderia emitir uma carteirinha.

Imagine você tendo uma sala de cinema. Fazendo os cálculos, você chega num cálculo de que o valor da entrada para cobrir seus custos deverá ser de no mínimo R$ 12. Você estipula que seu preço com lucro ficará a 15 reais. Aí vem o governo e diz que você deve cobrar somente metade para boa parte do seu público-alvo e ponto final. Você deverá cobrar R$ 7,50 por ingresso, abaixo do seu preço de custo. Se sua sala encher de estudantes, foda-se.

É claro que isso não vai acontecer. Já que o governo está colocando no seu rabo, você vai ter que compensar elevando o preço da meia-entrada para um patamar onde você consiga o lucro. Qualquer um pode inventar sua própria carteirinha e exibir na porta do cinema. O populismo evoluiu no governo Dilma que decretou em agosto desse ano um estatuto da juventude para estender os benefícios para jovens de até 29 anos (jovens???) que sejam enquadrados como pessoas de baixa renda. A lei contempla também uma porcentagem específica para o número de meias-entradas para os espetáculos, mas ainda não está claro como isso será implementado.

O que acontece então no Brasil de hoje é que não existe meia-entrada de bosta nenhuma. A meia-entrada é o preço de um ingresso normal, e a entrada normal é o preço do otário que não está dando um gato para conseguir uma carteirinha falsa e pagar metade. A lei da meia-entrada serve somente para propagar a corrupção e malandragem na nossa cultura, pois é criada em um modelo sem controle sobre a validade dos documentos, o que faz com que qualquer um emita uma carteirinha de papel falsa e consiga o "benefício". A meia-entrada é uma ilusão populista alimentada por estudantes idiotas úteis que jamais permitirão que essa lei desapareça. Nós fingimos que existe meia-entrada, eles também (o estudante está tranquilo pois nem falsificar ele precisa), o governo também e o empresário também, pois ele já trabalha com os preços adequados para o lucro e ainda consegue um bônus cada vez que um cidadão honesto paga a sua inteira.

O negócio hoje em dia é tão descaradamente falso que alguns eventos propagandeiam a meia-entrada para qualquer um que levar 1kg de alimento. Veja o caso da Brasil Game Show, que ocorre agora nesse final de semana:


Que bonzinhos, todo mundo paga meia! Eles devem tomar um prejuízo enorme desse jeito, não? O preço da inteira nem aparece no site.

Se todo mundo paga meia, ninguém paga meia porra! Mas vamos nos acomodar e fingir que uma entrada de 80 reais para uma exposição é a metade do preço.

A meia-entrada é mais um exemplo de lei malfeita, remendada e de caráter eleitoreiro, pois é facilmente contornável de todos os aspectos e cria somente uma distorção nos preços para que o cidadão honesto acabe pagando o pato e fazendo papel de bobo ou se corrompa e entre para o joguinho hipócrita de pagar metade do dobro de um ingresso normal.

Abraços!


terça-feira, 22 de outubro de 2013

Playstation 4

Não podia deixar de comentar sobre isso aqui no blog, afinal, é um blog NERD sobre finanças, certo?

Os gamers brasileiros comemoraram durante a E3 desse ano quando a Sony anunciou que o Playstation 4 chegaria no final do ano nos EUA por US$ 400, 100 dólares mais barato que seu principal concorrente da Microsoft, o Xbox One.
Grande parte dos brasileiros ficou maravilhado pois a Microsoft já havia anunciado o preço de lançamento do Xbox One por aqui a R$ 2199. Fazendo uma conta básica numa regra de três, dava pra deduzir que o preço do PS4 ficaria um pouco abaixo desse valor ou pelo menos em um valor bem aproximado. Esse pensamento foi encorajado quando representantes da Sony disseram em entrevistas que querem vender o PS4 com o melhor preço possível por aqui.
O mercado inteiro estava favorável ao novo videogame da Sony. Como a Microsoft deu várias pisadas de bola com o Xbox One (e acabou voltando atrás em basicamente todas elas), era um caso simples da Sony chutar pro gol e abocanhar o mercado nessa nova geração.

MASSSSSS...

A realidade é triste e cruel para esse povão, não é? O preço oficial divulgado pela Sony foi a bagatela de R$ 3999,00. Quatro mil reais por um aparelho de $400. Considerando o dólar a um patamar de R$ 2,20, seria um aumento de 4,5x o valor inicial. Mas que coisa, não? A coisa ficou feia para a Sony, que tentou jogar panos quentes na situação com a explicação abaixo:


Analisando por cima dá pra ver que você está comprando um impostão, que vem de brinde com um lucro gigantesco por unidade para o distribuidor e varejista, e lá no final um videogame de última geração, que de acordo com a tabela, ainda está recebendo um descontinho da Sony internacional senão seria um pouco mais caro.

Tirando alguns detalhes duvidosos, como muitos arrendondamentos para cima e alíquotas de ICMS sendo consideradas sempre no máximo possível, a realidade é que isso mostra claramente que "o gigante" ainda não acordou para o mundo.

O Brasil vive em uma realidade paralela, com um povo massacrado por impostos e regrado a políticas de pão e circo. O protecionismo sem planejamento cria alíquotas estratosféricas para importação de produtos que jamais serão desenvolvidos nacionalmente por falta de capacidade de pesquisa, mão-de-obra, tecnologia e infraestrutura. O consumidor final paga o pato tendo que fazer esquemas com os primos que vão pra Miami e ficando com produtos sem garantia. Um setor potencialmente bilionário é jogado para a informalidade, desperdiçando talentos nacionais e todo um mercado que poderia trazer muito mais benefícios para o próprio governo.

Claro, ninguém vai morrer se ficar sem comprar seu Playstation 4 no lançamento. E sim, os preços provavelmente cairão após alguns meses. Mas ainda sim, será o Playstation 4 mais caro do planeta, e com uma boa margem de diferença do segundo colocado.

Concluo o post com o ótimo texto do blog do Marcelo Tas:

Conclusão: é mais barato comprar um pacote Disney (numa busca rápida, encontrei um de três dias por R$ 1399, hotel e passagens, fora tickets), deixar de ver o Mickey, comprar o PS 4 (R$ 878) e voltar ao Brasil. Total: R$ 2277, quase a metade do que voce vai pagar pelo PS 4 no Brasil!
O preço absurdo, para consumidor otário, do novo PlayStation no Brasil é uma oportunidade para entendermos porque o nosso país vive perdendo o trem da  história. O jeito com que as coisas acontecem não diferem muito de quando eu era jovem e os primeiros computadores Apple surgiram aqui taxados a preços exorbitantes. O fato fez surgir duas indústrias paralelas tão inúteis quanto improdutivas: o contrabando e as empresas “nacionais” cuja arte se resumia a encaixotar produtos gringos nacionalizados na marra em troca de alguns favorezinhos. Recentemente, uma delas, a Gradiente, tentou deter na marra o direito exclusivo da marca “iPhone” no Brasil. Precisa dizer mais alguma coisa?
[...]
Os tempos são velozes demais para brincadeira boba de adulto. Ou o Brasil se liberta dessa herança maldita – taxação e espertezas astronômicas – ou a herança maldita acaba de vez com o Brasil.
Até o BBAS3 entrou na zuera

sábado, 12 de outubro de 2013

[Games] GTA V

E aí pessoal, tudo bom?

Acho que já joguei o suficiente de GTA V para escrever finalmente um review e falar sobre a parte financeira do jogo! Então vamos lá:




GTA V

Bom se você nunca jogou um GTA na vida (coitado) pelo menos deve saber do que se trata o jogo: é um jogo de ação da produtora Rockstar com elementos de RPG que oferece um mundo aberto e gigantesco para que você possa explorá-lo da melhor maneira possível. Só que nesse mundo você faz papel de um criminoso (no caso de GTA V, três) e você pode curtir o jogo com atitudes de um cidadão normal ou você pode sair metralhando aquela galera que está conversando de boas na praia ou começar a jogar granadas para todos os lados no meio de um engarrafamento. A grande sacada do jogo é oferecer uma simulação realista do mundo real, com cidades, montanhas, lagos, praias, parques, lojas, boates, bares, aeroportos, portos, prisões, e tudo que tem direito, e deixar o jogador lidar com esse mundo da maneira que lhe agrada mais.

Essa versão supera as anteriores em termos de tamanho do mapa e realismo gráfico. É impressionante comparar GTA IV que saiu logo no começo dessa geração de consoles e GTA V, que sai agora perto do lançamento do Xbox One e PS4, e perceber toda a evolução técnica ainda no mesmo hardware da anterior. Os cenários são de cair o queixo, o nível de detalhes do mapa em todos os cantos é animal e a jogabilidade também evoluiu muito.

Tá cansado das missões? Pega um avião e pula de pára-quedas ou vai participar de um rally

Na trama você controla 3 personagens distintos, que se unem em várias missões e as histórias vão se cruzando nos pontos-chave do enredo. Diferente de GTA IV que tinha uma crítica mais séria sobre o sonho americano, GTA V é um jogo repleto de ironias, sarcasmos e piadas em um mundo distorcido que leva aos extremos as bizarrices do nosso mundo real. Você atropela alguém na rua e é capaz de outro pedestre chegar perto do corpo só pra tirar uma foto com o celular. Existe uma rede social baseada no Facebook que faz várias referências sobre usar a informação privada das pessoas para se monetizar na cara larga. Na história de Michael, você convive com a filha dele estúpida e fútil que sonha em ser atriz e para isso quase vai fazer um filme pornô, e o filho gordo idiota que vive jogando uma espécie de Call of Duty online o dia todo e não quer saber de trabalhar.

É impossível para nós pobretões aportadores batalhadores não nos identificarmos com algumas situações onde o jogo coloca o dedo na ferida e debocha da sociedade em que vivemos, e isso que torna GTA uma experiência única e muito cativante. Franklin, um dos protagonistas, é um cara que quer vencer na vida e não sabe como, e no começo do jogo você encontra ele morando com a tia feminista louca (a piada com as feministas nesse jogo é sensacional) e com um patrão safado explorador. Michael vive a crise da meia-idade e não é feliz com seus filhos problemáticos e a esposa que chifra ele direto, buscando novamente a emoção de roubar que tanto gosta. E Trevor, bem... Trevor é o sociopata louco que vive em um trailer imundo e intimida a todos com seu jeito peculiar de lidar com a vida. Ele é o cara sem-noção e quando você alterna para jogar com ele, acaba sempre o encontrando em alguma situação de merda, geralmente bêbado e seminu em algum canto.

Essa parte de controlar três personagens ficou muito boa, com um botão você consegue alterar o jogo para um dos três e ir seguindo a vida de cada um. Cada um possui o próprio dinheiro, carros e propriedades, e é bem interessante tentar enriquecer os três. Falando em enriquecer, como o jogo lida com o dinheiro?

Tela de compra e venda de ações


Dinheiro é a alma do jogo e a Rockstar caprichou: você pode comprar propriedades que trazem lucro constante, montar uma carteira de ações, fazer trades, assaltar lojas e comprar veículos pela internet (o jogo tem uma simulação própria de internet). Existem duas bolsas de valores, uma simulada internamente pelo jogo e outra que é determinada pelas ações dos jogadores on-line. O legal é que algumas missões interferem diretamente no preço das ações, e você pode aproveitar isso para multiplicar sua fortuna. Por exemplo, cada empresa geralmente possui uma empresa concorrente, e em algumas missões você precisa matar o dono de uma delas ou planejar um grande roubo, o que faz a cotação da empresa afetada desabar e a do concorrente disparar. Então você pode fazer insider trading e fazer all-in nas ações do concorrente com os três personagens antes de finalizar a missão e encher o bolso. É possível usar também técnicas simples e aplicar uma certa análise gráfica de comprar na baixa e vender na alta. Existem inúmeras propriedades a serem compradas no jogo e é bem prazeroso tentar construir um grande patrimônio para os personagens.

O jogo possui legendas em português e fizeram um ótimo trabalho em deixar os palavrões explícitos. Inclusive se você morre aparece escrito bem grande na sua tela "SE FODEU".

Enfim pessoal: GTA é um jogo imperdível, principalmente pro pessoal aqui da blogosfera de finanças. Possui um conteúdo adulto sarcástico e inteligente e permite que você adapte o jogo ao seu estilo particular. Vale cada centavo investido pois irá oferecer muitas e muitas horas de diversão. E quando você está de saco cheio você sempre pode ir na boate pedir um show particular para duas garotas.

Seios!